domingo, 21 de fevereiro de 2010

Série "Parece Ruim.. Mas é Bom" Capítulo I - King for a Day... Fool for a Lifetime

Talvez King for a Day... Fool for a Lifetime seja o disco mais obscuro do Faith No More. Com a saída do guitarrista Jim Martin, a banda perdeu muito em qualidade. Sem guitarrista fixo, o FNM acabou utilizando os serviços de Trey Spruance, da banda paralela do vocalista Mike Patton (Mr. Bungle).



Muitos dizem que é o pior da carreira do conjunto. Não discordo. Porém, por uma razão que até hoje não consegui compreender, é o CD do FNM que mais rodou no meu Player (?!).


Apesar da gravação tosca, poucos inspiradas e do afastamento criativo do tecladista Roddy Bottum, KFDFFL traz um sabor diferente a cada canção, uma métrica exótica e temas intrigantes.


Por não conter "hits", é difícil de enjoar. cada vez que se ouve, descobre-se um som singular, uma passagem não percebida, em suma, é para ser digerido aos poucos.


One-by-One:


A primeira canção "Get Out", composta por Patton, confessa tacitamente o tédio de ir adiante com uma banda sem rumo. É basicamente rock, bastante agradável.


Ricochet, que se segue, teve até videoclipe com baixíssima rotação. Todavia, é bem legal porque cria uma clima de música "fácil" verso-refrão-verso, mas sem explodir. O clímax nunca vem e isso torna apetitosa sua audição. Às vezes é bom ser contrariado.


Uma grata surpresa é a estranha "Evidence". A pérola aqui é o acompanhamento que o guitarrista Spruance faz com o piano de Bottum, tocando ambos exatamente as mesmas notas. O clima soturno da canção gerou um bizarro videoclipe. Ótima pra motéis.


"The Gentle Art of Making Enemies" talvez seja a mais pesada. Bastante simples, provavelmente quem conhece bem a história da banda perceba a tentativa de Patton de transformar o FNH num novo Mr. Bungle. Não conseguiu, contudo deixou uma ótima música.


"Star After Death" é uma bizarra canção estilo standards do jazz. Particularmente gosto, pela quebra do clima que dá ao disco.


"Cuckoo for Caca" talvez seja a melhor das faixas. Patton explora bastante os vocais guturais bem acompanhado pelo baixista Billy Gould. Acho que jamais tocaria nas rádios (por isso é bom!).


"Caralho Voador", assim mesmo em português, é uma divertida tentativa de tocar bossanova. Não conseguiram, nem mesmo as frases em português são bem proferidas, porém dá pra se divertir: "eu não posso dirigir / e agora aparece / meu dedo enterrado / no meu nariz" Dá pra entender?


"Ugly in the Morning", apesar de ser um autoplágio de Cuckoo for Caca, é a última música "estranha". O destaque fica só pela bateria Mike Bordin (hoje na banda do Ozzy). Gosto dos falsetes.


"Digging the Grave", provavelmente a mais pop, não chega a atingir o status de "radiofônica", porém é muito boa. 4x4, bem rock n' roll e assoviável. A melhor participação de Trey como "músico de estúdio". Após "Digging..." toda experimentação é colocada de lado :( para ser recheada por um lado-b repleto de música pseudo-pop. A qualidade cai bastante.


Mais um momento Mr. Bungle, "Take This Bottle", tem estrutura de soundtrack. Defino como "boazinha", só.


"King for a Day", composta por todos os membros do FNM, é uma clara demonstração de enfado e desencontro dos músicos. O som é bom, mas é um pouco arrastado. Aqui fica a sensação de "disco gravado para cumprir contrato". E veja que não é o último!


"What a Day" e "The Last to Know" são duas dispensáveis que somente preenchem linguiça. Não sei o porquê, mas eu escuto (?!).


Meu CD terminava com "Just a Man". Muito parecida com as músicas anteriores, não chega a "salvar" o disco.


Todavia, o que se salva mesmo é o lado-A. Salva pela forma incomum que se apresenta. É bom, pois não é fácil, suave, bem tocado (na verdade é bastante amador). Mas traz desafios sonoros, dissonâncias, e incômodos. O saldo é positivo para quem não se contenta com o usual.






Aproveitem.