sábado, 23 de julho de 2011

A Ilustre Casa de Ramires

Portugal & o tempo que se foi

Tanto a inquisição espanhola quanto a portuguesa, por séculos realizaram algo que hodiernamente chamamos de "limpeza étnica". Os anos de matança legaliza resultaram na anulação intelectual quase completa dessas duas nações, Portugal ainda pior, ante sua pequenez territorial. Graças à Revolução Francesa e às invasões napoleônicas os países ibéricos viram se livres da "maquiavélica" entidade, mas o declínio foi inevitável.
Quando o mundo aspirava a revolução industrial e a classe parasitária da nobreza parecia um sonho distante, Portugal em seu complexo de inferioridade, em pleno século XIX para o XX, apegava-se aos ídolos do passado a fim de dar alguma grandeza ao seu tépido presente.
A Ilustre Casa de Ramires, para mim, é esse reflexo. Sou vítima de um ginasial modorrento permeado de "clássicos da literatura portuguesa" que, em tese, deveriam servir para valorizar nossa "língua vernacular", ou seja, o Português, mas, consequentemente somente nos distanciava de leituras mais interessantes e envolventes, como Crime & Castigo ou No Coração das Trevas. Eram histórias chatíssimas de um passado sempre falsificado acrescido do engrandecimento de uma nação (obviamente ainda estou falando de Portugal) que historicamente só nos explorou (Brasil gente) e jamais se interessou por nosso destino, a não ser para o extrativismo sem limites.
O livro de Eça de Queirós, em minha exclusiva e não ainda compartilhada opinião, é isso! A eterna busca de uma passado que jamais voltará, a sua tentativa de soerguer sua "casa" (a árvore hereditária da família Ramires), de seus pseudo-heróis, ocultar suas lutas inglórias e o presente morno da estéril classe da fidalguia decadente, com seus condes, marquesas, viscondessas... inúteis inúteis inúteis.
Não digo que o livro em si seja ruim, na verdade ele é bom. Todavia, deve ser lido unicamente pelo interesse, curiosidade, observação e jamais porque a "tia da escola mandou" e outras empulhações da espécie: "clássicos da literatura" ou leitura obrigatória (argh!).

That's all folks!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Impersonalidade

O que pareceu bem que podia ser
É não deixaria de poder
Mas tudo o que deveria acontecer
Não sou eu, nem era você

Esperei apenas uma oblação
Pele de cordeiro e lâmina
Foi-se sem meu coração
Para esvaziar a tamina

Tal qual será
O mesmo não quererás
Socorro suicídio
Seria o menor dos perigos

Mas cabalmente te conheço
Em devaneios e lamentos
Mesmo que apague os meus
Manterei os teus

Dê-me pelo fogo
Dê-me tatuagem
Dê-me lembranças

Não!

Dê-me pele de intenso fogo
Dê-me só sua última imagem
E mais nenhuma lembrança

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Arquipélago Gulag - Alexandre Soljenítsin

O Arquipélago Gulag - Alexandre Soljenítsin
(Círculo do Livro S/A) R$ 10,00 (nos sebos)

Qual é o valor da vida que não pode ser vivida?
Qual o regozijo de nascer são, livre, mas colocado numa fossa e impedido de mover-se, alimentar-se, dormir ou pensar? Ou numa cela cheia, fétida, insalubre com uma lâmpada ligada por vinte e quatro horas sob sua cabeça? 

Confesso que muitos livros me impressionaram (A Estrada, Ensaio Sobre a Cegueira), outros nem tanto (Amor de Perdição, O Código Da Vinci), mas pouquíssimos conseguiram, de tão profundos, mudar a forma do meu pensamento. Simplesmente é como um recomeço (-parem o mundo pois eu quero descer!). Somente dois: O Evangelho de Tomé e este... O Arquipélago...
A sinopse está em todos os cantos da internet, pouparei-os. Todavia, é mister que se leia antes "O Processo" do Franz Kafka e, também, "1984" ou a "Revolução dos Bichos" do Orwell, para situar-se historicamente. 
Lidos, é preciso adentrar com cuidado, pois a realidade é muito mais atormentadora à ficção. Nem a fantasia conseguiu chegar aos píncaros da verdadeira torpeza humana: -o genuíno moedor de homens. 

Por muitos anos, nas escolas em que estudei (pública e depois privada), fui constantemente doutrinado por meus professores. Já insistiam no proselitismo onanista-soviético pós-muro de Berlim, quando a presidência do Sr. Lula ainda era um sonho distante. Como uma esponja, lá ia eu, todo prosélito, fazer a pregação "pequeno-burguesa" à minha família. Considerando a situação à época (Plano Collor, inflação galopante...) estava meio difícil de encontrar a minha parte "burguesa", mas 'pequeno' era abundante. Meu pai, pacientemente, ouviu todas as minhas abobrinhas. Não falava nada, apenas pedia para que eu estudasse mais.

Só fui entendê-lo muito tempo depois.
Pois, ano após ano, a verdade me veio à tona. Compreendi a Queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética. Entendi o que era ser manipulado pelos professores, entendi que os fins não justificam os meios e, por fim, entendi o que certas pessoas fazem pelo poder (o pudê). Só que ainda não tinha a ideia clara do quanto se podia ir longe... Só percebi esta medida ao terminar este livro: -simplesmente não há limites. 

Muito do que já vomitaram em meus ouvidos resumia-se a "Lenin bom, Stalin, necessário". Stalin combateu Hitler, os Soviéticos chegaram em Berlim antes dos americanos e blá blá blá. Os fatos estão corretos, lindo. Só esqueceram de avisar o que se passava por detrás da cortina de ferro. O que estes 'heróis' fizeram a seu próprio povo e alguns estrangeiros, a que preço se mantiveram no poder e como conseguiram destruir toda a força intelectual de um país a ponto desta nação não conseguir produzir, pelo menos, 1 escritor que prestasse, pois massacraram todo ser que fosse capaz de algum questionamento. Mais impressionante é como conseguiram transformar homens em bois, que de tão mansos, caminhavam ao matadouro sem questionar. É o ponto ontológico do livro: como transforma pessoas em coisas, apáticas, sem paixão, vontade ou iniciativa, ou seja, zumbis.

Obs: aqui preciso fazer um adendo. O livro não é pró yankee, pois narra participações dos aliados na morte de civis inocentes das formas mais sórdidas e covardes possível.

Meus caros, é simples e muito, muito rápido.

1) Tudo sempre começa com uma boa intenção (normalmente uma revolução) a fim de destruir o sistema em vigor, acusando-o de déspota, corrupto etc.
2) Depois, se aliam até inimigos figadais e toma-se o poder pela força.
3) Imposto o novo sistema, matam-se todos os que verdadeiramente (ou não) colaboraram para o antigo regime (sabe aquele vizinho que você não gosta muito? Linchamento é bem útil nessas horas).
4) Liquidando o último "inimigo" é aberta a temporada de caça aos "amigos", ou seja, fabricam-se traições, infidelidades e desvios. Normalmente colhe-se pela tortura uma confissão, algumas denúncias espionagem e voilà, está prontinho mais um julgamento público. Sentencia-se à morte e a população é entretida (por hora) com sangue (só circo, nada de pão).
5) Com a morte de todos os ex-aliados, passa-se ao terror constante do inimigo externo, bem como, dos famosos "desvios" internos. Assim, caça-se à esmo a própria população. O hecatombe é de forma livre e mais sacrifícios são necessários. Pode-se matar de fome, sede, tortura... o importante é manter o medo constante e evitar o questionamento.
6) Depois do nível 5 dificilmente o ditador de plantão perde o poder (todos já estão mortos!). Exterminam-se tantos que é possível que não haja um para contar a história, simplesmente é apagado da memória coletiva, como se nunca tivesse existido.
No último nível, a única preocupação do tirano de plantão é sobrecarregar a população com o culto à sua personalidade e, a cada 10 anos, aniquilar todos seus aliados trocando-os por acólitos mais jovens (e mais doutrinados), naquele mesmo esquema: tortura, confissão, julgamento e morte. Um ou dois inimigos externos também ajudam.

Na hora do abate não pode haver qualquer tipo de compaixão, é preciso matar homens, mulheres, crianças, religiosos, intelectuais, professores, mendigos, inocentes úteis, porém principalmente os ex heróis. No livro, os soldados que lutaram pela União Soviética e viram a vida do outro lado (na Europa),  viram a liberdade, viram que não era preciso passar pela fome,e também os que viram a incompetência do próprio governo eram todos mortos nos campos ao retornarem à pátria. Havia o risco de contar aos outros o que havia além da cortina, de contar que lá a vida era melhor.

Assim, por derradeiro, recomendo muito este livro. É como o fruto da árvore do bem e do mal, é abrir os olhos, é entender as ideologias e militâncias burras, é compreender a gnose da estupidez humana, todo o sadismo ilimitado pelo sofrimento do outro, é o livro que te dará a percepção de identificar o perigo... e, principalmente, é o livro que te ensinará a pensar e questionar, não acreditar em nada do que te dizem... e se for para crer, será na metade do que vê.

E para os psicopatas de plantão é um bom guia de homicídios em massa.


Apenas leiam e tirem suas conclusões.

PS: também sugiro a leitura deste link: http://www.nerdssomosnozes.com/2008/08/arquiplago-gulag.html