sábado, 16 de agosto de 2008


Discos que podem mudar nossas vidas – Miles Davis Doo-Bop 1992.

Às vezes é impossível imaginar um artista que jamais tenha caído em algum tipo de decadência. Miles Davis não foge à exceção. Passou por quase todo tipo de declínio (físico, moral, financeiro...), exceto um! Exceto o mais importante: o artístico. Alguns podem me chamar de idólatra, mas não poderão dizer que estou errado. Miles Davis jamais lançou um disco ruim. O disco supramencionado até pode ser desconfortável para alguns, como também pode ser genial à pessoa ao seu lado. Não haverá unanimidade. E, aqui estou eu... para elogiar, ressaltar, exaltar, enaltecer, glorificar e por fim, louvar:

DOO-BOP, o disco que mudou minha vida.

Jazz praticamente não existia pra mim antes desse disco. Tudo era muito nebuloso, velho, teórico e chato. Mas não esse, não esse disco. Num dia aonde tudo já havia sido escutado, somente este CD restava no porta-luvas. Sem muito ânimo, coloquei-o. Daí em diante todo dia foi o dia mais importante. Tudo começou a fazer sentido, jazz não era mais chato, mas era desafiante; os improvisos, o sarcasmo, a despreocupação e a liberdade... ah liberdade! Finalmente havia entendido o jazz, jazz era livre!! Estava diante dos meus olhos, mas eu não enxergava. A partir daí, tudo virou jazz.

Miles, ao final da vida queria modernizar o seu som. O jazz há muito não reinava e nada era reinventado. Após ter perdido os anos 80 em sintetizadores e teclados, Davis juntou forças com um jovem produtor de hip-hop e começaram a trabalhar os sons das ruas. O som do baixo acústico passou a ser realizado por loops, a batida por samplers e pela primeira vez o jazz tocava o eletrônico e vice-versa. Mas o elemento humano, o trompete, o improviso, o calor e a liberdade estavam lá. Havia voz também para civilizar a selvageria das ruas, seus barulhos, seus incômodos... mas o trompete, o último trompete foi incrível. Miles estava velho, mas seu som era novo, as músicas eram novas, nada de releituras ou interpretações, mas somente as originais. Para mim, o melhor momento, pois havia o fogo da juventude, a ingenuidade, mas com uma clareza e o amadurecimento que só a idade poderiam lhe trazer.

Não comentaria as músicas, pois isso estragaria a epifania, mas como epílogo informo desde já de que o álbum é póstumo. Davis morreu durante a feitura (essa palavra existe, tá!) do disco. Duas músicas foram concluídas postumamente e há uma reprise também. Mas nada que macule esta grandiosa pequena obra de reinvenção.

Parte do jazz morreu junto com Miles Davis. Mas para onde ele seria levado caso tivesse vivido um pouquinho mais? Ou talvez o jazz ainda esteja aí, esperando o seu momento para ressurgir, com outros heróis, outros instrumentos e outras almas...

No epitáfio: Aqui M.D. jaz, aqui há jazz.



escrito por Calibam

postado por Ren

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