segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Coração das Trevas - Joseph Conrad

O Coração das Trevas
Joseph Conrad
R$ 10,50
Martin Claret

Tinha acabado de ler "A Linha de Sombra" e estava animado para o próximo do Joseph Conrad. Havia também assistido "Apocalipse Now" e esperava um livro à altura, mas decepcionou. Basicamente é um tanto parecido com a história do filme, porém não consegue desenvolver o mesmo enredo intrincado e psicológico.
Em suma, o narrador, Marlow, é encarregado pelo governo inglês local a subir um rio na África até o posto sob o (des)comando de um tal Kurtz, para ser julgado e posteriormente executado. Kurtz, supostamente teria enlouquecido e criado um governo tribal paralelo (possivelmente ainda no Congo Belga), onde o sangue seria a lei. Com interesse maior em sacrifícios deixa de repassar o marfim para a cidade e assim cria inimigos poderosos.
Marlow, depara-se com inúmeros desafios no caminho, como falhas mecânicas da embarcação, doenças, ataques de nativos...

Mas sua fé permanece inabalável, assim que encontra um branco e um livro que alimentam suas expectativas, pois tudo o que quer a partir desta narrativa é encontrar seu conterrâneo, cuja idealização vai aumentando a partir do conhecimento de suas expedições sanguinárias, imensas riquezas extrativistas que remetidas rio abaixo e extermínio de grupos étnicos, incompatível com as descrições que ouvira de um homem eloquente, culto e até mesmo filósofo.
Todavia, ao chegar, encontra o mundo paralelo e esquizofrênico de Kurtz, líder de um grupo de fiel seguidores que o cultuavam. Marlow compreende a afasia de Kurtz, pois este perdera todo e qualquer contato com o que conhecia como civilização e estava entregue ao mal puro.
No decorrer da viagem, o protagonista também vai se contaminando pela escuridão, apesar do desejo de não entregar sua carga às autoridades. A cicatriz em sua alma causada por esta viagem são a chave do início e fim do romance.
Bem, sei que todos sabem o final, mas mesmo assim não falo, acho desrespeitoso. Porém, lá vai: o horror, o horror!


É, não é um horror, mas é bem fraquinho.

Regards





2 comentários:

Ricardo Antonio Lucas Camargo disse...

A crítica desenvolvida no posto sob comentário, no meu ver, mostra-se profundamente injusta em relação ao livro, muito mais rico do que a excitante história de aventura que é narrada: há nele um componente de descrição da administração colonial, em que os nativos da colônia são tratados como simples objetos semoventes até a respectiva exaustão - a passagem em que Marlow se depara com os esqueletos humanos enquanto se prepara para ingressar no rio é emblemática, neste sentido - e os enviados para tratar do interesse da metrópole ou das companhias que, a pretexto deste, buscavam lucro no território colonizado são postos como simples engrenagens destinadas a propiciarem o maior lucro independentemente de quais sejam as condições de trabalho - desde uma prosaica deficiência no abastecimento de rebites para consertar o casco da embarcação que conduzirá os peregrinos até mesmo a ausência de regular abastecimento de provisões -; há a própria quebra de uma precompreensão da vida por parte do personagem Marlow, que se sente muito mais identificado com os selvagens embarcados com ele do que com os peregrinos brancos que o acompanham, indivíduos mesquinhos, que odeiam em Kurtz principalmente o dado de que sua inteligência tenha deixado de ser instrumentalmente útil não só para a companhia como para os próprios interesses pessoais deles; há no romance, também, a descrição de uma transição de uma lealdade ilimitada para uma hostilidade feroz, decorrente da desconsideração absoluta pelo esforço desenvolvido em prol dos interesses de seus superiores hierárquicos - a passagem em que Kurtz despacha o último carregamento de marfim é notável, neste sentido, não se enquadrando nos sistemas de simplificação binária tão explorados pela literatura barata, em que facilmente se vem a dizer "o Bem é o Bem e o Mal é o Mal"-; a própria reprodução de uma titanomaquia, dado que Kurtz, num certo sentido, é um homem que "assalta os céus", assumindo uma condição de Deus, para, de repente, ver-se reduzido à fragilidade física e à desesperança de quem viu as dimensões que o ser humano faz questão de ocultar, a despeito de elas existirem e se manifestarem de quando em quando.

Calibam disse...

Concordo com teus argumentos em parte, mas vejo-os mais explícitos no filme "Apocalypse Now" ao livro em si, principalmente na percepção de Kurtz sobre a pequenez humana ao narrar o episódio da vacinação de polio. A diferença entre o livro e a película está que neste último "Marlow" não compreende a dimensão do 'horror' narrada e vista durante todo o percurso.

Por derradeiro, Marlow, ao relatar a história aos seus companheiros não critica veementemente a desumanidade; esta está implicitamente ligada ao autor da obra, não ao personagem de per si.

Portanto, concluo, que tirastes as conclusões da leitura de Joseph Conrad e não do Coração da Trevas isoladamente.